Foi já em Istambul que conhecemos uma história de amor associada à cidade: Pierre Loti, pseudónimo do escritor e oficial da marinha francês Julien Viaud, apaixonou-se perdidamente por Aziyade, mulher de um abastado homem de negócios que vivia numa grande casa de madeira numa das ruas de Sultanahamet. Com o apoio de criados de confiança e amigos manteve um escaldante e perigoso romance clandestino. Diz-se que de noite a bela turca de olhos verdes saía de casa para se encontrar com Loti num barco no meio das águas do Bósforo. A novela “Aziyade”, que publicou em 1879, é considerada por muitos uma mistura de romance e de autobiografia.
Mas não foi só pela bela turca que Loti se apaixonou: a cidade tomou-lhe também o coração e Aziyade e Istambul ficarão intimamente ligadas. As colinas, o Bósforo, o recorte das duas partes da cidade nos céus, ora azuis ora cinzentos, o modo e o ritmo da vida, os cheiros e os sabores marcaram a sua vida e as suas memórias até morrer.
Para usufruir de uma paisagem privilegiada alugou uma casa no cimo de uma colina onde todos os dias podia desfrutar dos reflexos dourados do pôr-do-sol no Bósforo. É perto desse local que fica o café Pierre Loti, sem dúvida um dos lugares a não perder em Istambul.
Começámos por entrar na livraria junto ao café e não resistimos a comprar o livro Constantinople escrito em 1890 que começa assim: “É com inquietação e uma grande melancolia que começo este capítulo do livro. Quando pediram para o escrever, quis recusar fazê-lo; mas pareceu-me uma espécie de traição para com a pátria turca – e, por isso, aqui estou.” As sessenta e seis páginas dedicadas a Constantinopola /Istambul interrompidas por imagens da época mostram que a cidade de hoje mantém o ambiente que a torna única.
Loti morreu em 1923 em Hendaia, cidade basca no lado francês. E foi na cidade basca de Bilbao que no início de Agosto encontrámos no Museu Guggenheim Pierre Loti pintado por Henri Rousseau. O retrato é enigmático e perturbante, como enigmática e inquieta foi a sua vida.